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Por conta das altas taxas de desemprego ou pela vontade de mudar o ritmo de vida profissional, muitos trabalhadores estão tomando as rédeas da própria carreira longe do ambiente corporativo. Uma pesquisa da 99Jobs, Rock Content e WeDoLogos, divulgada no final do ano passado, apontou que o número de profissionais autônomos ou freelancers no país deve aumentar em torno de 20% em 2018, seguindo um quadro que já é observado desde 2016, no auge da crise de emprego. Assim como no cenário empresarial, essa modalidade de trabalho tem seus prós e contras.
Entre as principais aspirações de quem aposta na vida de freela é não estar sob o guarda-chuva de um gestor e ter mais tempo livre. O problema é que essa liberdade exige organização para que a equação entre dedicação ao trabalho e momentos de lazer seja saudável e rentável.

— O profissional pensa que não terá um chefe, mas nem sempre ele será o chefe de que ele precisa. Ainda sinto muita falta de gestores que me ajudaram a ter uma vida mais estruturada — conta Luciane Costa, freelancer em Marketing, fundadora do Blog Vivendo de Freela, nome que identifica também o curso que ministra na Descola, escola de cursos online em inovação e empreendedorismo.
Organizar-se não é só colocar o relógio para despertar todas as manhãs no mesmo horário. A jornalista Raphaela Donaduce Flores, 30 anos, após anos como funcionária em empresas, enxergou na vida de freelancer um caminho para dar diversidade aos trabalhos em que se envolvia. Fez a transição gradualmente, contando com uma qualidade: é disciplinada.
Primeiro, ela passou a trabalhar em empresa por meio turno. Reservou o outro período do dia para os clientes eventuais. Aos poucos, percebeu que os trabalhos avulsos estavam aumentando, muito em razão da alimentação constante que fez de sua rede de contatos (network). Alguns anos depois, o marido dela, o publicitário Caetano Sá Teles, 35 anos, juntou-se à empreitada, e os dois tocam juntos a Dona Flor Comunicação. Raphaela atuou por pouco tempo como freelancer. Rapidamente, o mercado exigiu que ela se tornasse uma empresa.
— Os freelas foram crescendo, e muitos clientes, empresas grandes, pediam nota fiscal. Como autônoma, eu notava que eu acabava pagando mais imposto. Então, abri minha empresa. Mas, a verdade é que eu sempre encarei a vida de freela como uma forma de empreendedorismo — conta a jornalista.
Raphaela e Caetano, aos poucos, foram organizando a rotina. Também buscaram cursos para entender daquilo que, antes, ficava sob a responsabilidade das empresas em que trabalhavam, como pagamento de INSS, descontos de férias e finanças de um modo geral. Tanto é que, prestes a dar à luz o primeiro filho, o casal sabe que poderá contar com o auxílio-maternidade. Eles também desistiram de bancar uma sala comercial e todos seus custos. Agora, trabalham no Catalise Coworking, um escritório coletivo que supriu outra demanda do casal-sócio: queriam trabalhar juntos, mas sem se ver a toda hora, e Caetano não curtia trabalhar sozinho.
— Senti muito isso, essa falta de ter uma equipe. Eu gosto de conversar, bater um papo sobre qualquer coisa, com outras pessoas. No coworking, a gente tem isso — diz ele.

Cuidado para o “mais tempo para mim” não virar noites sem dormir

É na falta de aparar todas essas arestas que muitos dos que almejam uma vida profissional sem chefes pecam. Psicóloga formada pela USP, a coach Bia Nóbrega, da Associação Brasileira de Treinamento & Desenvolvimento (ABTD), explica que a falta de planejamento, aliada à indisciplina, é um dos principais obstáculos ao sucesso dessas carreiras.
— Isso faz o profissional tomar decisões erradas, se posicionar mal. Quem vai para o mercado sozinho precisa conhecer seu perfil, saber o produto que vai trabalhar e estar informado sobre o mercado. Tem de saber qual seu diferencial, quais suas deficiências e, antes de tudo, se programar, porque ele não terá um salário fixo. Precisa organizar a vida financeira de sua pessoa física e de sua pessoa jurídica — diz Bia.
A especialista ressalta que essa desordem acaba afetando dois dos principais atrativos de uma vida sem bater ponto. O tão almejado “mais tempo para mim” pode se tornar um tempo mal aproveitado e noites sem dormir para cumprir prazos, e o salário maior talvez, na prática, seja resumido em mais trabalho e menos remuneração.
— Por que isso? Porque as pessoas não sabem previamente quantas horas vão demandar em um projeto, acabam cobrando errado e trabalhando mais para alcançar uma determinada renda. Então, é preciso organizar tudo, porque ela, em vez de ganhar dinheiro, estará perdendo. Outro erro é entrar no mercado cobrando menos para usar o preço como diferencial. Não é bom para o mercado, nem para o profissional, que vai acabar conhecido pelo preço baixo e terá dificuldade em cobrar mais — alerta.

Impostos e Previdência, você vai topar com eles

Bem, nem só de talento se faz uma vida “avulsa” no mercado de trabalho. As responsabilidades tributárias também rondam o caminho desses profissionais, e o melhor é estar com tudo regularizado.
Muita gente não trabalha com nota fiscal e prefere a informalidade, mas perde chances de se expandir, em razão da falta de documentação, e ainda pode se complicar com a Receita Federal se receber valores acima de R$ 28.559,70 anuais e não declará-los corretamente. Vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, o contador Celso Luft explica que um dos primeiros passos para atuar como autônomo (considerando aqueles com cursos técnicos profissionalizantes ou graduação superior) é garantir registro no conselho ou órgão de classe.
O profissional também terá de providenciar um registro no cadastro fiscal da prefeitura do município onde estará atuando. O valor varia de município para município e também de acordo com a atividade. Esse registro permitirá o recolhimento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) pela administração pública, o que poderá ser feito pelo profissional em cota única ou parcelado, como ocorre nos pagamentos de IPTU, por exemplo.
Nessa cruzada para ficar em paz com o fisco, os profissionais liberais terão de solicitar um alvará de localização, para abrir as portas em um determinado endereço e oferecer seus serviços, ou ao menos informar à prefeitura um ponto de referência, que será utilizado para correspondências. Essa última modalidade é muito utilizada por autônomos que atuam em mais de um lugar, por exemplo, dentistas que atendem em diversas clínicas. Com isso, mensalmente, o autônomo terá de emitir o Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA) e contribuir para Previdência Social, para ter benefícios como auxílio-doença e auxílio-maternidade assegurados.
Quem está saindo da vida de funcionário e imediatamente seguir contribuindo para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não tem carência para usufruir desses benefícios. Porém, se ele nunca contribuiu e está começando agora como autônomo, terá de esperar um ano para ter esses direitos. O conselho é manter ao menos o desconto mínimo, para ter alguma aposentadoria lá adiante.

Quanto contribuir com o INSS

– Se contribuir o mínimo, que é 5% do salário mínimo,o profissional terá direito de se aposentar somente por idade e recebendo de benefício um salário mínimo.
– Ele também poderá optar por contribuir além do salário mínimo, descontando 20% do valor desejado até, no máximo, sobre o valor do teto da previdência, atualmente em pouco mais de R$ 5,6 mil. Nessa opção, poderá se aposentar por tempo de serviço. Existe uma modalidade de contribuinte facultativo, aquele que está desempregado e não é autônomo e nem empresário, mas não quer perder a qualidade de segurado e deseja se aposentar.

Fique atento ao Leão

E o Imposto de Renda? O autônomo não está livre da bocada do leão. Ele terá de declarar seus rendimentos, mas, em vez de baixar lá no site da Receita Federal o famoso Programa de Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), por exemplo, fará o download do programa Livro Caixa. Se obtiver uma renda líquida — a receita mensal descontadas as despesas para obter seu rendimento (como material de trabalho) — acima de R$ 1.903,98 terá de pagar imposto conforme a alíquota estipulada por uma tabela da Receita Federal.

O profissional liberal poderá avançar nessa independência, mas com uma cara jurídica, registrando uma empresa. Para grande parte de profissões de Ensino Médio, o caminho mais aconselhado é o registro como Microempreendedor Individual (MEI), criado exatamente para formalizar profissionais que não têm uma atividade regulamentada. Assim, não é aceita a maioria dos profissionais liberais das ditas “atividades intelectuais”, que, no entendimento das regras do MEI, são aquelas que demandam curso técnico ou superior.
Segundo o vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, o contador Celso Luft, para quem tem algum desses diplomas e quer abrir uma empresa de forma mais simples e menos tributada, há opções via Simples Nacional ou pelo Lucro Presumido. Pelo simples, há a opção como Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli), quando é constituída de uma só pessoa como titular do capital social, e a Empresa de Responsabilidade Limitada, a conhecida Ltda, quando há sócios. Pelo Simples Nacional, o desconto de impostos fica entre 6% e 16%. Pelo lucro presumido, entre 11% e 16,33%. Mas a decisão sobre o caminho a seguir, adianta Luft, não pode ser baseada somente em uma comparação de percentuais.
— A gente costuma indicar que, até um rendimento de R$ 7 mil por mês é melhor de manter como um autônomo. Mas é preciso avaliar. O profissional tem de analisar seus rendimentos, a atividade que ele tem e o perfil do cliente. Se eu vou trabalhar como empresas de porte médio ou grande, certamente eu precisarei abrir uma empresa, porque para elas contratar alguém pelo RPA representa riscos trabalhistas. Não costumam fazer isso. Agora, se meu cliente é pequeno, eventual, bem, aí talvez não seja preciso. Por isso, tem de pensar bem no seu perfil como profissional liberal —  alerta o contador.

Antes, durante e depois de encarar a vida de autônomo

1) Avalie o seu perfil

Conhecer-se é fundamental. Avalie o que você gosta de fazer, suas dificuldades no planejamento e na execução dos trabalhos (pergunte-se, por exemplo, se você gosta de vender produtos). Sabendo disso, você consegue organizar sua rotina e identificar possíveis suportes e apoios que vai precisar para sua atividade. Uma das questões que mais aparecem nas reclamações de quem opta pela carreira autônoma é a solidão. Considere se não é o caso dividir uma sala ou apostar em um coworking antes de abrir seu escritório pessoal. Há profissões em que os voos solo são mais difíceis, e outras, como as das áreas de comunicação, programação e TI, que já se mostram mais familiarizadas com esse cenário de atuação.

2) Faça reservas financeiras

A professora Luciana Costa sugere que você guarde algum dinheiro para se manter ao menos oito meses a partir da abertura do negócio ou projeto individual. Depois, com conhecimentos de planejamento financeiro, sempre é importante ter reservas para eventualidades e até para que você possa usufruir de férias e folgas. Lembre-se de que, sozinho, você é quem vai arcar com questões previdenciárias, imprevistos de equipamentos e custos operacionais. Tem de ter dinheiro para isso todos os meses. As juntas comerciais do país estimam que, na média, em até dois anos são encerradas 45% das empresas constituídas e, ao final de cinco anos, somente 25% sobrevivem. Não subestime a ajuda de um contador, ele é fundamental na ordem financeira.

3) Faça networking

No Brasil, aos poucos, consolida-se a cultura do compartilhamento entre os pares. Participe de fóruns, grupos na internet de profissionais da sua área. Nesses ambientes, você pode dividir dúvidas, trocar boas práticas e ainda aprender com o erro dos outros e, por que não, fazer boas e rentáveis parcerias.

4) Qualifique-se

Não basta fazer todos os cursos possíveis sobre empreendedorismo, finanças e sobre novidades na sua área somente antes de abrir a empresa ou encarar o mercado como freela. É aconselhável manter-se apoiado em uma boa consultoria de negócios, pelo menos nos dois primeiros anos. É preciso manter o olho nas inovações e aproveitá-las para melhorar seu diferencial. Também observe o que está rolando na sua área em outros países. De fora, podem vir boas ideias a serem implementadas com pioneirismo por aqui.

5) Descole a sua imagem do passado na empresa anterior

Os profissionais que saem de grande empresas para carreiras solo têm nas mãos, via de regra, um currículo chancelado por corporações consolidadas. Muitos, inclusive, enfrentam dificuldades de largar “o sobrenome” de onde trabalharam, então, tome cuidado sobre isso. Vale mencionar essa experiência na sua apresentação ao mercado, mas não sufoque seu projeto atual com o passado. Esqueça o sou o “fulano da empresa xxx”, pois agora você é apenas “fulano”. Crie a sua marca e a fortaleça com divulgação e eficiência.

Fique atento à rotina

1- Organização

Tudo depende de você. Então, se não tiver organização, provavelmente não conseguirá desenvolver um bom trabalho como freelancer.

2- Foque no que você faz melhor

Quem contrata o seu serviço espera que você seja especialista naquilo que está sendo contratado. Por isso, diversificar muito pode ser perigoso. Invista em coisas nas quais você seja muito bom em todo o processo do trabalho.

3- Seja controlado com dinheiro

Como freelancer, você nunca sabe quanto vai ganhar por ano e mês. Sendo assim, é preciso ser controlado e não extrapolar nas contas.

4- Saiba se motivar

Quando você tem colegas que te ajudam a focar e produzir, pode ser mais fácil de não perder os objetivos. Sendo autônomo, você precisa se motivar sozinho, porque não terá mais ninguém com você.

5- Assuma riscos e goste de mudança

Todos os dias, você vai precisar tomar, sozinho, decisões que vão impactar sua carreira. Ninguém mais poderá fazer isso por você.

6- Seja resiliente

Você não vai ter suporte de um chefe, portanto, saiba lidar com problemas, adaptar-se a mudanças e superar os desafios.

7- Seja vendedor

Saber vender seu peixe é essencial para um freelancer. Se você não vender seu serviço, ninguém mais o fará.

8- Qualifique-se constantemente

O aprendizado é parte da rotina de um freelancer. É preciso estar sempre atualizado no mercado para que você possa prestar os serviços da melhor forma.
Fontes: Descola – Escola de Inovação Online; Coach Bia Nogueira e Luciane Costa, fundadora do Blog Vivendo de Freela
Publicado em GauchaZH 

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