Quem quer empreender e abrir um brechó, negócio que, em geral, comercializa moda de segunda mão, pode contar com boas notícias. Dados do painel Mapa de Empresas, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços (MDIC), mostram que atualmente existem quase 20,6 mil empresas nesse ramo no Brasil. Dessas, 16 mil são MEIs (Microempreendedor Individual). Ainda de acordo com esse painel, o estado de São Paulo é o que concentra o maior número de negócios, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro. É um segmento que vem se desenvolvendo com força e consistência.
O despertar para formas mais sustentáveis para consumir, inclusive moda, vem ampliando esse mercado. “O brechó é capaz de conectar os conceitos de sustentabilidade, circularidade, moda autêntica e consumo consciente”, afirma Anny Tonet, gerente adjunta da área de inovação do Sebrae Nacional. Ela aponta que todas essas características são comuns ao comportamento do novo consumidor, os jovens da geração Z e Y, os Millenials. “Esse tipo de negócio alia preço justo, exclusividade e comodidade, que são elementos desejáveis no processo de compra hoje em dia”, diz.
Kamilla Merle, analista de competitividade do Sebrae Nacional, lembra que “o propósito dos brechós, ou seja, ter um branding forte relacionado à sustentabilidade, gera fidelização e engajamento com o cliente”. Ela ressalta, ainda, que o reaproveitamento de peças ajuda a reduzir o volume de resíduos gerado pela moda, o que é necessário e desejado por quem busca um estilo de vida mais sustentável.
O que levar em conta antes de começar
O mercado está em alta, mas há desafios. Entenda quais são e como lidar com cada um deles.
Preconceito em relação a itens de segunda mão: embora a tendência seja, cada vez mais, pessoas abandonarem a resistência, ela ainda existe. A questão pode ser trabalhada com o reforço no discurso baseado no apelo do ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). “Trabalhe estratégias de marketing nesse sentido”, sugere Anny Tonet.
Preocupação com a imagem: por muito tempo, esse tipo de negócio foi visto como um lugar onde só havia refugos, itens empilhados de qualquer jeito, com cheiro de sujeira e mofo. Os brechós modernos não são nada disso. Se optar por uma loja física, é importante cuidar de sua imagem: “Ela precisa ser muito organizada, limpa, clara e cheirosa”, orienta Maurício Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV). “As peças devem ser fáceis de se encontrar, por isso, ordenar por numeração é útil. “Elas precisam estar arrumadas de maneira atraente e bonita”, completa. Se a escolha for por um brechó online, continuam valendo os cuidados para que as peças estejam sempre em ótimas condições e higienizadas.
Gestão do estoque: como se trata de um negócio que depende de vários “fornecedores” (quem quer vender, deixar em consignação ou até doar ao brechó) e não daquela fábrica X ou Y, às vezes pode ser difícil manter um estoque adequado e suficiente. Tenha foco, dedique-se à captação daquilo que tem valor para o público-alvo e levante o máximo de itens dentro desse perfil. Kamilla Merle recomenda um controle rigoroso do inventário para ter variedade de produtos sempre disponíveis.
Definição do segmento: a competição com marcas de fast-fashion, que oferecem produtos de baixo custo e alta rotatividade exige uma gama de produtos que tenham coerência com o tipo de negócio – que pode ser direcionado a marcas de luxo ou a diferentes necessidades, como uma loja focada em roupas de festas, para o dia a dia, para o segmento infantil, entre outras. “A diferenciação do seu brechó pode estar na capacidade de selecionar mercadorias. E de se especializar em determinado perfil. É melhor fugir da linha tudo para todos”, acredita Maurício Morgado, da FGV. Segundo ele, isso implica em dominar o assunto, entender de moda e estilo para saber onde buscar produtos e como garimpá-los.
Captação de produtos: você pode selecionar peças em bazares, na vizinhança (por meio de avisos na vitrine dizendo que está em busca delas, por exemplo) e até diretamente com clientes da própria loja, que podem ou não deixar itens em consignação. Por isso é importante divulgar o brechó no seu entorno e pelas redes sociais – fazer parcerias com influenciadores digitais pode ser uma boa. Crie perfis em plataformas como Instagram e Facebook utilizando ferramentas de social commerce para marcar presença e para mostrar os produtos. Vale também divulgar pelo WhatsApp para pessoas que quiserem receber informações sobre novidades e ofertas. Isso é válido para brechó físico e e-commerce.
Passo a passo para abrir o negócio
- O Sebrae orienta que a primeira providência é ter um contador de confiança, habilitado pelo Conselho Regional de Contabilidade. Ele irá ajudar tanto na abertura do negócio, quanto no acompanhamento do dia a dia: “Assim como o planejamento financeiro, estar em conformidade com a legislação e as normas tributárias é fundamental para este e qualquer outro tipo de empreendimento”, afirma Kamilla Merle, do Sebrae. Você terá o registro de maneira individual (MEI) ou em outros enquadramentos jurídicos.
- É preciso registrar a empresa na Junta Comercial; na Secretaria da Receita Federal (para obter o CNPJ); na Secretaria Estadual da Fazenda e na Prefeitura Municipal para obter o alvará de funcionamento. E enquadrá-la na Entidade Sindical Patronal a que pertence (é obrigatório recolher contribuição patronal anualmente). Cadastrar a empresa na Caixa Econômica Federal no sistema “Conectividade Social – INSS/FGTS”. Além disso, registrá-la no Corpo de Bombeiros e na Previdência Social. No caso da loja física, solicitar consulta do local onde ela vai funcionar para emissão das certidões de Uso do Solo e Número Oficial. O contador pode auxiliar em boa parte dessas documentações.
- No caso de brechó físico, providenciar manequins, prateleiras, gôndolas, araras, sapateiras, balcões, estrutura de provadores (com cabine e espelho). No caso de ele ser digital, precisa ter um local arejado para organizar muito bem as peças e um bom sistema de controle de entrada e saída de mercadorias.
- Na loja física, o ideal é ter atendentes (o número vai depender do tamanho do negócio), gerente, auxiliar de estoque, administrativo e de limpeza. Vale contar com um gestor de redes sociais. Na loja online a quantidade de funcionários também varia de acordo com o tamanho da operação. Segundo o Sebrae, para uma estrutura de cerca de 2 mil peças, estima-se uma pessoa para as áreas administrativa, financeira, de estoque e comercial e um gestor para as plataformas de venda. Também é interessante ter um profissional para cuidar das redes sociais.