Cada vez mais as fintechs estão saindo da proposta inicial e expandindo para outras áreas de atuação, seja por meio de desenvolvimento interno, aquisições ou parcerias. Elas estão se infiltrando e vice-versa. Um exemplo no Brasil tem sido a voracidade com que os grandes varejistas estão entrando na seara do crédito como uma operação própria.
O foco é que as lojas funcionem como ponto físico para a oferta de serviços aos clientes da fintech: que poderão realizar saques e depósitos diretamente nos caixas das lojas físicas dos varejistas, além de realizar a contratação do crediário sem a necessidade de se dirigir ao balcão.
A Via Varejo, por exemplo, acaba de adquirir 80% das ações da CarrierEQ, Inc. d/b/a Airfox, empresa detentora do banQi, carteira de serviços financeiros 100% digital e 100% real, sem tarifas, que funciona por meio de um aplicativo. A companhia anunciou este mês o exercício da Opção de Compra em comunicado ao mercado enviado à CVM. O Conselho de Administração da Via Varejo aprovou ainda a aquisição de participação adicional das ações do banQi o que, caso consumado, permitirá a compra de até 100% da sociedade.
O banQi combina as soluções da fintech em crédito, meios de pagamento e serviços digitais e a gigante varejista de eletroeletrônicos e móveis com mais de mil lojas físicas no Brasil e 84 milhões de clientes. Os serviços oferecidos não se restringem aos clientes da Casas Bahia. O aplicativo está disponível para qualquer pessoa e a previsão é disponibilizar em 30 dias uma nova versão, inclusive em todas as lojas físicas da companhia.
Veja a seguir 5 tendências mais quentes no mercado de fintechs que guiarão o segmento este ano e em breve:
Oportunidades no Norte e Nordeste do país
As fintechs já conquistaram espaços antes ocupados apenas por grandes bancos. Pesquisa realizada pelo Google apontou que 21% e 22% dos entrevistados dessas regiões estariam dispostos a trocar bancos tradicionais por startups, contra 16%, 15% e 10% dos ouvidos das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, respectivamente.
O Google realizou a pesquisa online em outubro de 2019 com 500 pessoas maiores de 18 anos de todas as regiões do Brasil. Mas as novatas têm um grande desafio: atrair e reter clientes em um ambiente cada dia mais competitivo. Outra pesquisa (realizada pelo Ibope junto ao Google) indica que 83% dos clientes de fintechs hoje também têm produtos bancários tradicionais.
Super apps
Surgem pelo mundo, inspirados pelo sucesso dos chineses WeChat Pay e AliPay, players de todo o mundo que investem na criação de super apps com soluções de pagamento mobile integradas. Na América Latina, a disputa é intensa entre MercadoPago, Rappi e iFood. A fintech Inter também segue essa vertente, incluindo em seu superaplicativo mais de 60 serviços para os clientes do banco digital.
Bancos reticentes nas aquisições
O volume de aquisição de startups no setor ainda não chega perto dos elevados números de investimentos em fintechs. Os grandes bancos e instituições financeiras devem continuar cautelosos, avaliando desafios como barreiras regulatórias, culturais e sistemas tecnológicos legados. Mas os bancos não estão parados olhando o mercado como expectadores. Aqui muitos já lançaram suas fintechs para servir de ‘teste’ nesse novo segmento.
Compliance em alta
Ao mesmo tempo em que regulações de open banking abrem caminho para que as fintechs integrem suas tecnologias diretamente ao sistema financeiro, órgãos regulatórios estão mais atentos ao setor. Assim, fintechs investem cada vez mais em compliance e RegTech.
Inteligência evita endividamento
Mais que oferecer canais digitais para a negociação, os grandes players precisam aprender com as fintechs a garantir a educação financeira dos clientes, a fim de criar um ciclo de crédito sustentável, investir em fidelização e também conhecê-lo para a melhor tomada de decisões.
Nos EUA, startups surgem com o propósito de aliviar endividamento pessoal sendo o intermediário direto no processo de pagamento de salários, em uma intersecção entre HRTech e FinTech. As soluções vão desde educação financeira até antecipação de salários e negociação de dívidas por consignação.
Por aqui, o movimento ainda engatinha, mas surgem as primeiras startups que se preocupam com a educação do cliente. Além de conceder crédito, os líderes dessas fintechs estão empenhados em dar caminhos para que o cliente consiga pagá-los. Via análise de dados e de comportamentos, têm obtido êxito. A taxa de inadimplência dessas fintech tem sido entre 3% e 5%, em média.
Odilon Costa é CEO da Tree Solution