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No início, qualquer atividade pode ser desafiadora e com a atividade de importar não seria diferente. Empreendedores que nunca adquiriram produtos no exterior tem receio de dar o primeiro passo, mas ao mesmo tempo, estão limitando suas possibilidades e isso pode impactar, ou até inviabilizar, um produto ou projeto.
Em 2017, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), de 43.063 empresas que importaram algum tipo de produto, 10.107 não haviam feito nenhuma importação no ano anterior. Ou seja, mais de 23% das empresas estava iniciando, ou reativando, suas operações de importação no ano passado. Esse volume expressivo ocorre porque a oferta global de insumos, produtos acabados, equipamentos a preços competitivos com tecnologia avançada e qualidade de ponta é uma realidade.
Outro dado interessante é o aumento no volume de importações de insumos e produtos intermediários, aqueles destinados à produção ou revenda. Ao avaliarmos os produtos intermediários da indústria química, por exemplo, nos meses de janeiro e fevereiro de 2017 com os mesmos meses de 2018 identificamos, através de dados da Receita Federal, um aumento de, aproximadamente, 23,3% em valor de importação. O número deve-se a empresas importadoras que, com a retomada da economia, estão mais confiantes e investindo em sua produção ou estoque para revenda.
Já que isso é uma realidade para quem importa, deve ser encarado como uma oportunidade para quem ainda não começou a explorar essa modalidade. É importante lembrar que riscos existentes em compras locais também são uma realidade nas compras internacionais. É prudente em uma primeira aquisição de um fornecedor desconhecido fazer uma visita presencial, buscar referências de outros compradores ou mesmo comprar um lote inicial menor para testes.
Existem ainda mecanismos que um comprador internacional pode utilizar para não ter surpresas. Por exemplo, ao invés de efetuar um pagamento antecipado ao fornecedor, é mais interessante negociar uma Carta de Crédito para pagamento das mercadorias, ao menos, ao longo de um período de reconhecimento entre as partes.
Com essa modalidade, um banco é colocado como intermediário na operação e só libera o pagamento ao exportador (fornecedor) quando este cumprir requisitos pré-definidos pelo importador (comprador) e aceitos por ele próprio, tais como a apresentação de documentos que comprovam o embarque das mercadorias, o cumprimento do prazo limite para efetuar o embarque, se os embarques podem ser parciais ou não, entre outros. Nesse sentido, para que essa experiência seja produtiva e não traumatizante, é importante ter atenção a alguns aspectos:
• Atenção ao cronograma: além do tempo de produção do insumo, produto ou equipamento, existe o prazo do trânsito internacional, seja aéreo, marítimo ou rodoviário, além do prazo de liberação das mercadorias na alfândega. Esse tempo deve ser adicionado ao trânsito total para que seja definido o momento correto de colocar o pedido junto ao fabricante, evitando atrasos e imprevistos;
• Câmbio: a variação cambial talvez seja o item que mais assusta os empresários na hora de importar. A incerteza do custo final do produto importado impacta no planejamento como um todo. Quando a opção de importar é tecnologia e qualidade, esse fator fica menos relevante, mas se a motivação de importar é o custo baixo do produto, é importante que no momento da decisão exista uma folga para que, no caso de uma subida repentina do câmbio, o impacto possa ser absorvido. Vale lembrar que o câmbio também pode cair, gerando um resultado positivo na operação;
• Impactos tributários e jurídicos: infelizmente, vivemos em um ambiente de alta insegurança jurídica e com um dos piores sistemas tributários do mundo, mas isso não é “privilégio” das empresas importadoras. Todas as empresas e empreendedores sofrem com isso. A importância de ter conhecimento em tributação, não somente na importação, mas também nas cadeias posteriores de venda, pode ser a diferença entre dar, ou não, resultado na operação.
• Parceiro especializado: ter o suporte de profissionais experientes no comércio exterior é necessário para começar a importar. Existem diferentes prestadores de serviços como despachantes, tradings e empresas de transporte internacional que oferecem soluções para cada tipo de demanda e são parceiros fundamentais para o sucesso inicial e futuro das operações.
Ao longo dos últimos anos e principalmente por conta de questões internas, o Brasil ficou fora da cadeia global de fornecimento de produtos de valor agregado e boa parte da nossa indústria ficou defasada em relação à tecnologia e produtividade. Muitas vezes, a taxa de câmbio é apontada como a principal culpada desse processo, mas o fato é que para o país ser inserido como um fornecedor global de produtos acabados ou semiacabados, o empreendedor precisa de um ambiente mais favorável a investimentos de médio e longo prazos.
Ao menos, a taxa de juros real no Brasil entrou em um processo de redução, mas o país ainda precisa de um contexto mais completo, com custo de energia competitiva, mão de obra qualificada, taxa de câmbio estável, segurança jurídica e um sistema tributário mais simples e eficiente para que essa inserção se torne uma realidade.
Além disso, esses fatores não podem ser passageiros. Devem fazer parte de um Plano de Governo de longo prazo e sustentável, apesar das diversas vertentes políticas que convivemos em um ambiente democrático. Dentro desse contexto, existirá espaço para oportunidades, mas para aproveitá-las, o empreendedor precisa abrir os olhos (e a cabeça) para os benefícios que o comércio internacional pode gerar e aceitar os riscos (calculados) de comprar insumos, produtos acabados e equipamentos pelo mundo afora. Com certeza, o esforço inicial será recompensado.
*Artigo de Dan Turkieniez, Sócio-Diretor da Razac Trading, empresa brasileira que atua no desenvolvimento de projetos personalizados na área de comércio exterior. Engenheiro de formação, pós-graduado em administração, empreendedor por vocação. Sólida experiência em Desenvolvimento de Negócios, Vendas, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento Organizacional. Há 18 anos trabalhando com comércio exterior, tecnologia e negócios.

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