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Superação é uma das principais palavras no dicionário de um empreendedor de sucesso, ainda mais quando essa pessoa sofre de algum tipo de deficiência ou doença crônica. Conforme pesquisa realizada pelo Sebrae-SP, o Estado conta com cerca de 27% de empreendedores com alguma deficiência e, desse grupo, 94% realizam suas atividades por conta própria e sem sócios.
A pesquisa também observou que cerca de 6% oferece emprego e quase metade realiza seu trabalho em casa.
Com o avanço do trabalho remoto e novas ferramentas de comunicação, pessoas com deficiência encontram mais oportunidades para montar o próprio negócio e ter independência financeira. Segundo Fernando Dolabela e Cid Torquato, autores do livro Empreendedorismo sem Fronteiras (Alta Books), empreender é um excelente caminho para inclusão social e qualidade de vida para deficientes. A vantagem está na possibilidade de definir com autonomia o próprio ambiente de trabalho, incluindo rotina e tarefas, o que nem sempre é possível em um emprego formal. “O empreendedor não é alguém especial e sim alguém que desenvolveu esse potencial, tal qual outros potenciais como falar, calcular, imaginar e correr. Empreendedor é aquele que transforma inovando e gerando valor positivo para o coletivo, não somente para si”, defendem os autores.
A brasileira Rafaela Ungaretti, de 21 anos, ainda não tinha ingressado no mercado de trabalho quando foi diagnosticada, aos 13 anos, como portadora da síndrome de Wolfram, uma doença autoimune degenerativa e rara que ao longo dos anos já afetou 80% da sua visão e grande parte da audição. Baseada na Califórnia desde 2017, onde encontrou os melhores recursos para o tratamento da doença, há três anos Rafaela criou o canal de YouTube Wolfram Inside, onde compartilha informações sobre a síndrome e o seu tratamento. No ano passado, ela fundou também a Associação Brasileira da Síndrome de Wolfram (ABSW), que tem como objetivo arrecadar fundos para oferecer melhores condições de vida para portadores da doença no Brasil. “Empreender foi a forma que encontrei para me sentir útil, ativa e integrada”, diz a jovem, que hoje é convidada para palestrar em conferências internacionais como as promovidas pela The Snow Foundation, maior fundação voltada para o estudo da síndrome nos Estados Unidos.
Rafaela atribui a aplicativos gratuitos como o Accessibility da Apple a possibilidade de trabalhar com autonomia em seus projetos. “Sem essa tecnologia, eu não conseguiria me corresponder por e-mail ou acessar materiais de pesquisa”, diz a brasileira que acaba de ser aprovada no programa americano Technology Access, que oferece computador, tablet e telefone equipados com softwares especiais para pessoas com deficiências visual e auditiva.
Portador de espondilite anquilosante, uma inflamação autoimune que atinge especialmente a coluna, o empreendedor americano Bill Balderaz não permitiu que a condição crônica o impedisse de abrir a própria empresa de análise de dados, a Futurety. “Há muitas analogias entre o tratamento de doenças crônicas e o empreendedorismo. Ambos têm dias de glória e outros muito ruins, requerem determinação, paciência e tomada de decisão sob pressão”, diz. As diversas cirurgias e a perda temporária da visão criaram obstáculos na gestão do negócio fundado em 2006, mas Balderaz não desistiu. “Só porque algo é extremamente desafiador, não significa que você não deva tentar”.
O Brasil possui cerca de 45 milhões de portadores de necessidade especiais, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010. O número corresponde a 23% da população do país. Já dados do Ministério do Trabalho mostram que apenas 357 mil pessoas com deficiência estão formalmente empregadas.
“É muito importante criar oportunidades para que essas pessoas vivam com dignidade, gerando riqueza e fazendo a diferença no mundo”, diz a americana Hilary Jastram, autora do livro Sick Success, um manual de empreendedorismo para pessoas que enfrentam problemas de saúde, sem tradução no Brasil. “Empreendedores com deficiência trabalham de maneira mais inteligente, não mais difícil, e sabem identificar soluções alternativas que os permitem prosperar”, diz Hilary que em 2017 abriu a Sick Biz, organização que oferece suporte para empreendedores com deficiência ou alguma doença crônica.

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